quinta-feira, 16 de maio de 2013

FLAME: uma ferramenta de apoio ao monitorização florestal testada em Moçambique

O projecto REDD Fast Logging Assessment & Monitoring Environment (REDD-FLAME) desenhou um sistema capaz de monitorizar as florestas tropicais e sub-tropicais usando imagens radar (e óptico) de alta resolução adquiridas por satélites de Observação da Terra. O sistema fornece meios para rapidamente identificar os primeiros sinais do desmatamento focalizando a detecção antecipada de actividades de exploração florestal, e agir assim como uma ferramenta para controlar o uso dos recursos e promover o desenvolvimento sustentável nestes ambientes frágeis e valiosos. O sistema constitui um aditivo aos sistemas existentes de alta-resolução e os sistemas (semi-) operacionais de média-resolução, fornecendo o enfoque para monitoria de áreas com alto risco de desmatamento. Como tal, o sistema pode ser integrado nos centros nacionais ou regionais de monitorização florestal e fornecer dados para avaliações em grande escala da emissão do carbono no contexto do REDD.
O sistema foi desenvolvido e testado em Moçambique,  Brasil e Indonésia, para cobrir uma variedade de tipos florestais e causas de desmatamento. Em Moçambique, o sítio de prova foi a Reserva Florestal de Mecuburi, na província de Nampula. O período de execução do estudo foi 2011-2013. O estudo foi coordenado pela empresa Remote Sensing Applications Consultants Ltd do Reino Unido, com a participação da SarVision, da Universidade de Wageningen da Holanda,  e da Universidade Eduardo Mondlane em Moçambique.


 

Clareiras visíveis nas imagens ópticas de muito alta resolução (RapidEye) na Reserva Florestal de Mecuburi. Mudanças na cobertura de Julho de 2010 (à esquerda) a Junho de 2012 (à direita)

O seminário final realizado em Fevereiro de 2013 em Maputo,  apresentou a avaliação do sistema, indicando que este tem uma capacidade real de identificar de forma rápida a remoção de árvores dentro da floresta através da detecção de alterações na cobertura de copas. A avaliação das alterações na cobertura de copas em períodos inferiores a um ano podem ser complicadas devido às variações estacionais com a caducidade foliar e a ocorrência de queimadas. A aplicação do sistema para a monitoria do REDD poderá ser influenciada pelo custo das imagens de alta resolução. Pois estas imagens deverão ser adquiridas com frequência, bem como a capacidade de resposta do sistema, uma vez detectadas as alterações na cobertura florestal. As recomendações, são assim de que o sistema possas ser utilizado com eficiência em áreas com maior risco de desmatamento, mas que se pretenda de facto reduzir ao máximo o desmatamento (p.e. nas áreas de conservação).
Para ver detalhes de resultados da avaliação na Indonésia e Brasil siga este link.
  

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Alternativas de energia e maior eficiência energética para salvar florestas

O desmatamento, a degradação do ambiente, a perda de diversidade biológica, entre outros aspectos, são temas bastante debatidos nas últimas décadas no mundo. Em Moçambique, o desmatamento e a degradação das florestas é atribuido a causas directas tais como conversão deflorestas para agricultura, a produção de energia de biomassa, entre outros. Estimativas gerais indicam a cifra de 80% como sendo a percentagem da energia doméstica que é gerada de lenha e carvão. A nível local as preocupações são outras: o fumo na cozinha, o custo elevado do carvão (o saco de cerca de 65 kg de carvão nas cidades de Maputo e Matola custa actualmente 750 meticais, valor que é superior ao preço de uma botija de 15 kg de gás, que é actualmente vendida ao preço de 610 meticais).
Há algumas iniciativas locais para minimizar os problemas referidos acima.

Utilização de gás natural: Produzido em Pande e Temane, província de Inhambane, o gás natural será canalizado para a cidade de Maputo e Marracuene. Numa primeira fase, a decorrer de 2012 a 2013, o projecto da parceria entre a Empresa Nacional de Hidrocarboneto (ENH) e uma companhia coreana, a KOGAS, irá abrangir os grandes consumidores e numa fase posterior irá atingir os consumidores domésticos (ver mais detalhes). Actualmente o gás natural já é consumido ao nível doméstico nos distritos de Vilanculos, Inhassoro e Govuro, província de Inhambane. Porém o número de consumidores ainda é pequeno: em 2011 era de 250 e havia planos de expandir para 350 no ano seguinte.
Utilização do gas natural para cozinha


Utilização de etanol: A fábrica de etanol a partir de mandioca, com capacidade para produzir 5 mil litros por dia, está instalada no Dondo, a CleanStar. Em Abril de 2013 fez-se a entrega dos primeiros 40000 litros de etanol para o mercado de Maputo. O produto é vendido com o seu fogão (fabricado na África do Sul), desenhado para o efeito e subsidiado para o consumidor Moçambicano.
Ndzilo
Ndzilo, a nova forma de cozinhar: 5 litros de etanol produzido pela CleanStar, Moçambique

Aumento da eficiência de utilização de carvão vegetal através da utilização de fogões melhorados: Lançada a iniciativa em Maio de 2013 pela Mozambique Carbon Initiatives, a meta é produzir e promover 13000 fogões melhorados de tipo mbaula e poupa carvão (e outros) com uma eficiência de pelo menos 20%.
Uso de fogões melhorados a carvão para aumentar a eficiência de uso

Em todos os casos há o desafio da adopção pelos potenciais consumidores. Falar em termos de aumento global de temperatura, perda de biodiversidade, redução de emissões de dióxido de carbono para os potenciais consumidores não parece fazer sentido nem despertar interesse em aderir à iniciativa. Impacto na economia doméstica (através da redução dos custos de energia), a qualidade do ar (menos fumo na cozinha) parecem ser questões mais apelativas para o processo de adopção.

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Testando REDD em Moçambique

O REDD está tomar forma a nível global e Moçambique está nesse mesmo processo. Resutados dos experimentos e simulações feitas em outras regiões tropicais podem ser relevantes para Moçambique, que está presentemente a desenvolver acções prepativas para a implementação do REDD+. Enquanto os recursos são escassos e por isso não podemos justificar experimentos de todo o tipo para responder às perguntas do REDD+ , há experimentos em curso que contribuem para um melhor conhecimento da dinâmica do carbono florestal e as suas relações com o ambiente sócio-económico nacional e localO IIED em parceria com a Universidade Eduardo Mondlane (FAEF and FLCS-CAP), o Centro de Desenvolvimento Sustentável – Recursos Naturais, o Instituto de Investigação Agrária de Moçambique, a MICAIA e ORAM e Universidade de Edinburgo  estão a iniciar um projecto denominado "Testando REDD" com o financiamento do governo Norueguês. O projecto, com a duração de três anos, tem como objectivos "...definição da linha de base das condições socioeconómicas prevalecentes antes do início da implementação do REDD+ de modo que sirva para analisar as mudanças que esta iniciativa irá trazer. Igualmente importante é a ligação entre as actuais causas do desmatamento e degradação bem como a taxa de mudança de uso da terra e perda de estoques de carbono para determinação da linha de referência das emissões que também servira de base para medir os impactos do projecto e da implementação do REDD+ na zona centro".

Novas evidências de exploração ilegal de madeiras em Moçambique

A Agência de Investigação Ambiental (EIA) do Reino Unido, baseada em Londres, publicou em Dezembro de 2012 um relatório com novas evidências de exploração ilegal de madeiras em Moçambique. O relatório, intitulado First Class Connections: log smuggling, illegal logging and corruption in Mozambique foi bastante circulado entre os profissionais e praticantes do sector florestal e sociedade civil. Também foi matéria de manchete de vários jornais locais e promoveu acesos debates televisivos. O assunto foi até ao parlamento, pois uma das revelações do relatório é a ligação entre o Ministro da Agricultura (órgão central de gestão de florestas em Moçambique) com as empresas indiciadas de envolvimento em operações ilegais de madeira na província de Cabo Delgado.
Com este relatório, acumulam-se cada vez mais evidências de exploração ilegal em Moçambique. Depois dos relatórios e denúncias feitas e documentadas desde 2006 (ver o meu post sobre exploração ilegal ou a homenagem a António Patrício), utilizando métodos diferentes, parece que é cada vez mais inegável admitir que a exploração ilegal, e com envolvimento de empresas Chinesas é uma coisa mais real. A publicação do Forest governance in Zambézia, Mozambique: Chinese take away em 2006 provocou muito alvoroço, ao ser o primeiro relatório a escrever de forma aberta alguns achados da exploração ilegal de madeiras em Moçambique. Outros relatórios pouco circulados, por exemplo o relatório de comércio de madeiras entre África e China produzido pela Forest Trends, e o relatório de investigação do CIFOR sobre as relações Sino-Moçambicanas e as suas implicações sobre as florestas, foram produzidos indicando evidências de exploração ilegal de madeiras e uma cada vez crescente exportação de toros, apesar do seu banimento parcial. Apesar de ser difícil indicar claramente o envolvimento de pessoas do governo, do exército, políticos e funcionários do Estado, todos os relatórios sobre o assunto indicam que a exploração ilegal de madeiras tem facilitação de Moçambicanos.
As instituições responsáveis pela gestão dos recursos florestais, apesar de se redobrarem em medidas administrativas e jurídicas para controlar o assunto, parecem incapazes de trazer soluções concretas. A distância entre o discurso e a prática é cada vez maior. O relatório da EIA indica perdas na ordem de dezenas de milhões de dólares por ano em impostos e taxas. Se este valor fosse efectivamente colectado para o Estado e fosse aplicado para apoiar a gestão das florestas, os serviços florestais poderiam melhorar o seu desempenho. O envolvimento de pessoas individuais, Moçambicanas, na exploração ilegal de madeiras pode revelar como as pessoas estão tirando benefícios em detrimento das instituições. Não há estimativas de quanta madeira ainda existe na floresta, e os técnicos do sector não querem falar abertamente sobre o assunto. Entretanto não parece difícil imaginar que, a ser verdade a diferença entre as estatísticas dos Serviços Florestais de Moçambique e as estatísticas do mercado de madeiras Moçambicanas na China, não há sustentabilidade da exploração florestal em Moçambique.

Florestas tropicais são resilientes às mudanças climáticas

As florestas tropicais constituem um dos repositórios mais importantes de carbono dos ecossistemas terrestres. É com esta base que as Nações Unidas, através do REDD+ , têm estado a promover a iniciativa de redução do desmatamento e degradação de florestas como forma de assegurar a emissão de dióxido de carbono, um dos principais gases de efeito de estufa, para a atmosfera.
As bases do REDD+ supõem que as florestas, quando conservadas por um período de tempo longo, poderão armazenar CO2. Entretanto, as florestas tropicais estão expostas aos efeitos das mudanças climáticas, particularmente o aumento da concentração de CO2 na atmosfera e o associado aumento de temperatura. O efeito destas mudanças sobre as florestas tropicais não é devidamente conhecido. Experimentos reais para medir estes efeitos são extremamente caros e os modelos de simulação têm sido a ferramenta utilizada para o efeito. Os resultados de modelos nos inícios da década de 2000 previam uma morte massiva de árvores nas florestas tropicais. Mais ainda, a seca que afectou a Amazonia em 2005 mostrou que perante este tipo de eventos as florestas podiam ser uma fonte de emissão e não um sumidouro de CO2. Modelos de simulação mais recentes dão conta que as florestas tropicais da África, América e Ásia, poderão resistir aos efeitos de aumento de concentração de CO2 e da temperatura. Se de facto as florestas tropicais forem resilientes às mudanças climáticas, então há boas notícias para a iniciativa REDD+, pois significa que a sua conservação não será perigada pelas próprias mudanças climáticas, para as quais o REDD+ pretende mitigar.
Ainda assim, investigadores de florestas tropicais, particularmente da floresta Amazónica reconhecem que não há dados suficientes para se saber o verdadeiro efeito do aumento da concentração de CO2 sobre as florestas tropicais. Para suprir esta falta de dados, os investigadores estão projectando montar o primeiro experimento em tamanho real para responder a perguntas tais como "como é que a floresta vai reagir se aumentarmos a concentração de CO2 ?". O experimento, a ser instalado em Manaus, Brasil, vai custar milhões de dólares e vai durar pelo menos 10 anos (ver artigo sobre o experimento publicado no jornal Nature).